sexta-feira, 7 de maio de 2010

#3 Artistas a conversa no museu do azulejo: Cargaleiro

"Só não temos nenhum, ou vários, Picasso português porque as saudades é que deram cabo disto tudo. Os nossos artistas iam para Paris, e em Paris produziam para o mundo... eram os melhores! Mas depois tinham saudades, e voltavam para casa... produziam só para Portugal e a sua qualidade diminuia".
Já tinha pensado várias vezes nisso, noutras áreas, que Portugal tem esta coisa das saudades que trama sempre a malta, o país trata-nos mal, vamos para fora e sentimo-nos lá melhor... e mesmo assim temos de voltar sempre, que treta!

Uma das coisas mais engraçadas foi saber que desde pequeno que brincava com o barro, porque havia uma olaria ao pé de casa, para onde ia depois das aulas... E achava mágico ver as peças crescer na roda de oleiro! Pedia bocadinhos de barro para levar para casa, pedia à mãe que cozesse as suas peças no forno a lenha, pintava-as com restos de tinta que havia na quinta... até que conheceu António Barradas, e começou a levar a cerâmica a sério.

Cargaleiro revelou também a história dos painéis da via sacra de Fátima: foram atribuídos a Lino António sem que este percebesse nada de cerâmica nem azulejaria... mas era o director da escola António Arroio, e levou-os por isso para lá, e foram feitos pelos alunos da escola (é incrível como as coisas religiosas têm sempre capacidade de arranjar m***) e contrataram-no então para ser professor na escola, já que era aprendiz do António Barradas, o grande mestre azulejar daquele tempo.
António Barradas percebeu que se estavam a aproveitar dele e pediu-lhe que não fosse, mas Cargaleiro ainda era demasiado novo para perceber... e aceitou.


Foi mais uma conferência interessante, e curiosa. E mais um artista cheio de sonhos.