Ao contrário do Halloween idiota, nas aldeias e terreolas pequenas, no dia 1de Novembro pela manhã, os meninos vestem-se de meninos bonzinhos (só eu sei o que sofria com aqueles vestidos de laços, e sapatos de verniz que não davam jeito nenhum, acompanhados pela bela peúga branca de rendinha), e em grupos, com um saco de pano pintado ou bordado por uma avó, da forma mais "avózinha" possível, vão de porta em porta gritar "pão por deus, pão por deus, saco cheio e vamos com deus".
As pessoas abrem porta e dão-lhes doces, tradicionalmente beijinhos, línguas de gato e rebuçados. A tradição também incluía figos secos, nozes e castanhas.
Era uma maravilha, eu esperava o ano inteiro por este dia, andar por aí com os amigos, correr as casas todas, algumas velhotas davam-nos dinheiro, a competição para ver quem é que tinha o saco maior... e depois vir para casa à hora do almoço, e esvaziar o saco para boiões de vidro: rebuçados para um lado, beijinhos para o outro, e línguas de gato para outro ainda. Das outras coisas não gostava, e chupa-chupas e chocolates não costumavam chegar a casa.
Tenho pena que as cidades estejam a enterrar esta tradição, eu dava tudo para voltar atrás no tempo, e pegar no meu saquinho de pano e berrar:
Pão por deus, pão por deus, sacos cheios e vamos com deus...
