quarta-feira, 20 de abril de 2011

Biblioteca Itinerante Calouste Gulbenkian

Ouvir um apito longo de carrinha numa tarde de Primavera, apesar de poder parecer banal, fez-me viajar no tempo e lembrar dos tempos em que "vinha a biblioteca".
A biblioteca era a carrinha castanha, atulhada de livros da Biblioteca Itinerante Calouste Gulbenkian, que passava por sítios lonínquos muito antes de existirem livrarias ou centros comerciais aqui ao pé.
"Vir a biblioteca" não era só vir a carrinha. Era um mundo mágico que lá vinha dentro. Primeiro, quando se ouvia a buzina, ia-se a correr chamar 2 ou 3 vizinhos, com medo que eles não tivessem ouvido: a Biblioteca não era algo que se pudesse perder. Depois iamos todos juntos até ao sítio onde a Biblioteca parava, em grande algazarra, porque estava ali A Biblioteca. Vinham "os senhores da Biblioteca" que me ajudavam a escolher os livros (e me viam a crescer em termos literários). E vinham os livros todos. Esse sim era o encanto porque se podia escolher 5 livros dentro daquelas estantes todas... acho que era o sítio com mais livros juntos que eu já tinha visto! E havia duas prateleiras para mim, um em cima da outra, ao lado do condutor, com pérolas como o "Pequenú" (o maior desafio, visto terem 300 páginas cada livro"), de onde eu ia tirando e escolhendo livros. Durante uma semana ou duas, brincava menos na rua, porque tinha os meus livros para ler. Ao fim de 3 semanas já os tinha lido todos e aí havia que emprestar livros entre vizinhos, para poder continuar a lêr.
Hoje em dia estas bibliotecas são vistas como o cúmulo da ruralidade, talvez pobreza, ou outras coisas menos "inn", mas pergunto-me se alguém consegue ler 5 livros por mês. Mesmo tendo tempo para os lêr, conseguiria comprá-los? Não me parece!

Projectos como este são sim o cúmulo do altruismo e da inclusão. Levar livros a toda a gente, 5livros por mês, onde quer que as pessoas estejam. Não seria certamente quem sou se todos estes livros não tivessem vindo ter comigo!