quarta-feira, 15 de julho de 2009

Comboio da meia noite

Quando digo que apanho o comboio da meia noite Lisboa - Sintra, todos entram em pânico por mim: porque é perigoso, é tarde, as pessoas que lá vêm dentro são perigosas, há roubos... um mar de coisas.
Sempre o defendi, mas ao fim de um mês a apanhá-lo todos os dias, quase dou razão às vozes que ouvi.
Eu chamar-lhe-ia o comboio das empregadas de limpeza. Ao meu lado, todas as noites se sentam senhoras de meia idade, a maioria negra, com um ar quase nojento... do cansaço. Conversam entre si, por já apanharem juntas aquele comboio há muito tempo. E as conversas que oiço não conseguem deixar de me chocar.
Uma, desesperada, não sabia o que fazer, porque desde que o patrão, português, lhe quis aumentar o horário de 8 para 10 horas, sem lhe pagar mais nada e ela não aceitou (malandra), mudou-lhe o horário,para ela ficar até às duas da manhã..."Mas como é que eu vou para casa? Aquela hora já não há comboio! O meu salário não dá pra pagar o taxi! Eu bem lhe disse, mas ele diz que isso é problema meu... Eu assim não posso vir trabalhar". A outra respondeu "Olha, a mim, de seis em seis meses, quando está na altura de ficar efectiva, mandam-me uns dias pra casa... eu acho que isto é pra não me darem mesmo o contrato..."
Todos os dias oiço conversas do género, destas senhoras sujas, mal vestidas, com sapatos de plástico dos chineses...
Não há dúvidas de que aquele comboio é estranho, e nos tira da nossa zona de conforto... mas os criminosos foram de carro para casa!